O coco é ou não um fruto de casca rija? - Fidu | Alimentos Inclusivos

O coco é ou não um fruto de casca rija?

O coco é ou não um fruto de casca rija?


O coco é muitas vezes erradamente categorizado como um alergénio dentro da categoria dos frutos de casca rija. Esta confusão comum tem diversas origens, entre ela o seu nome, aparência e a legislação de rotulagem de alergénios americana.

Os frutos de casca rija nascem em árvores, por isso em inglês se denominam por “tree nuts” ou simplesmente “nuts”. Este nome “nut” é dos motivos que está na origem da confusão e desconfiança no consumo de certos alimentos por indivíduos alérgicos a frutos de casca rija. Mas nem tudo o que tem “nut” no nome pode ser considerado um fruto de casca rija, por exemplo: a “butternut” (abóbora manteiga), “nutmeg” (noz moscada) e o “coconut” (coco).

Na culinária, são vulgarmente considerados frutos de casca rija aqueles que são secos e ricos em gordura (frutos oleaginosos), embora nem sempre do ponto de vista botânico o sejam. Por esse motivo, é frequente a confusão do amendoim como um fruto de casca rija, quando na realidade é uma leguminosa (da família das ervilhas). O coco é também rico em gordura e a sua semente seca apresenta uma casca literalmente rija, mas isso também não o pode classificar como um fruto de casca rija do ponto de vista botânico.

Em outubro de 2006, a FDA (entidade norte americana que regula a legislação alimentar) começou a identificar o coco como um fruto de casca rija na sua lista de alergénios de declaração obrigatória. Este enquadramento tem originado confusão entre consumidores e alérgicos, bem como contestações tanto da comunidade científica como das próprias associações de produtores de produtos à base de coco. (1)

O coco é a semente de um fruto drupáceo que nasce de uma palmeira, a qual botanicamente não é considerada uma árvore, mas sim uma planta mais próxima geneticamente dos fetos. (1)

Qualquer alimento é potencialmente um alergénio, havendo mais de 170 alimentos documentados como tendo provocado reações alérgicas. No entanto, apenas cerca 8 grupos de alimentos são responsáveis por 90% das alergias, sendo que a lista do que são considerados os principais alergénios varia de país para país, podendo ir até cerca de 14 alergénios principais como é o caso dos países da União Europeia.

Tendo isso em conta, o coco, como qualquer outro alimento, é também um potencial alergénio. No entanto, a alergia ao coco é rara e não está diretamente associada à alergia a frutos de casca rija.(3) A maioria das reações documentadas ocorreram em pessoas que não eram alérgicas a frutos de casca rija. (1)

Estudos laboratoriais identificaram as proteínas de armazenamento das sementes como o principal alergénio do coco, tendo descrito alguma semelhança entre elas e as proteínas de alguns frutos de casca rija como as nozes e avelã. No entanto, tanto em ensaios clínicos como na prática clínica, não foram encontradas evidências de aumento da sensibilização ao coco ou alergia em pacientes alérgicos a frutos de casca rija. (2)

Uma preocupação comum de pacientes alérgicos a frutos de casca rija é se eles podem consumir com segurança produtos derivados de coco. Devido aos motivos que foram acima apresentados há frequentemente a confusão de que se um paciente for alérgico a frutos de casca rija, ele tem um risco elevado de apresentar reações alérgicas ao coco. Isto pode levar a dietas excessivamente restritivas, e limitação no acesso a alternativas alimentares seguras. (3)

Embora rara, a alergia ao coco pode provocar reações graves, incluindo anafilaxia, pelo que se suspeita de alergia ao coco, deverá consultar o seu médico para efetuar o diagnóstico para saber se deve ou não evitar o coco. (3)

Na Fidu, seguimos a legislação europeia no que toca a alergénios, pelo que excluímos dos nossos produtos e das receitas que publicamos todos os 14 principais alergénios de declaração obrigatória na rotulagem, os quais representam mais de 90% dos casos de alergias a alimentos. Como o coco não está listado na legislação europeia como alergénio, dada a baixa prevalência desta alergia, e é também uma alternativa frequentemente usada para substituir outros ingredientes alergénicos, poderemos utilizar em algumas das receitas que publicamos o coco ou os seus derivados, sendo que cada pessoa deverá adaptar individualmente a receita às suas necessidades dietéticas.

 

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(1) FARE ( 2017). Your Food Allergy Field Guide. Food Allergy Research & Education.
(2) Stutius, L. M., et al. (2010). Characterizing the Relationship between Sesame, Coconut, and Nut Allergy in Children. Pediatric Allergy and Immunology, vol. 21, no. 8, Dec. 2010, pp. 1114–18.
(3) Anagnostou, K. (2017). Coconut Allergy Revisited. Children, vol. 4, no. 10, 2017, p. 85.

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